20 de maio de 2009

Um dia, verás: será tarde!

Hoje acordei, esperei-te como faço à alguns anos. Olho-te pela mesma janela por onde te vi partir. Ainda me lembro o dia de nevoeiro que encheu meu coração de noite. Parece que foi à uma pequena eternidade, cheguei a casa e tinhas preparado o jantar no forno, estava deliciosamente encantador, dois gladíolos em cima da mesa, velas acesas e pequenos guardanapos dobrados de uma forma diferente. A música do rádio continuava a tocar e tu com os teus olhos azul-mar deixas-te cair a colher de sobremesa. Levaste a moldura com a nossa fotografia que dava vida á mesinha redonda. Levaste-a contigo, abris-te a porta e partis-te devagar. Querias tanto ficar que acabas-te por partir, sem apenas um ‘adeus’. Levantei-me da mesa de jantar com tanta raiva, com tanto amor, com tanto sentimento, parti a jarra que segurava os gladíolos. Despedaçou-se em pequenos cristais que não tinham fim. Tentei seguir-te, percorrer o teu caminho. Mas não consegui, perdi-te no horizonte. Deixas-te escrito na janela “O que fazemos ás palavras que ficam por dizer?”. As palavras escritas nas vidraças embaciadas em dias de nevoeiro são sempre tristes. Não importa o seu verdadeiro significado. Todas as manhãs colhia gladíolos, fazia o pequeno-almoço para dois e esperava ouvir-te bater á porta para que viesses começar o dia comigo. Era o passar de mais um dia que acabava por nunca chegar. Á noite não encontrava os teus braços, nem os teus olhos a brilharem bem perto de mim. As saudades não eram muitas, nem eram poucas. Matavam devagarinho por dentro. Com o pensamento em ti dizia baixinho “Boa noite” na esperança que tu do outro lado do mundo ou em qualquer outra parte me pudesses ouvir. Hoje projecto encontrar-te um destes dias. Num país deste mundo, sabe-se lá já tenhas uma família, filhos e uma linda mulher. A certeza que nunca levas-te foi a de encontrar uma cerejeira plantada no teu jardim. Quando te encontrar, ou se te encontrar deixarei os laços de cetim que levo a prender as tranças douradas num dos ramos da formosa cerejeira, entrarei casa adentro como tu sais-te da nossa, só para reclamar um ‘adeus’.
Perguntei-te: Amas-me?

E tu disseste: Sabes bem que o amor não é uma resposta