6 de junho de 2010




Prometi nunca mais escrever para ti, mas o que é certo é que acabo sempre por voltar a escrever-te. Hoje acordei com a tua mão a tocar-me levemente no ombro. Não estavas lá, não podia ver-te, mas senti-te, eu sei que senti. Quando foste embora prometes-te que nunca irias de verdade, prometes-te ficar de qualquer forma e hoje eu senti que ainda estás comigo. Levantei-me, sentei-me no chão e disse-te uma espécie de qualquer coisa:

“ *** eu pensei que tinhas ido embora, acreditei nisso durante estes anos e agora estás aqui, comigo. É estranho eu sentir-te como um vulcão que me queima a pele e não conseguir ver os teus olhos, a tua expressão de sempre. Este não é o teu lugar, tu sabes disso. Vives-te sempre entre o agora e o depois, não pertences aqui. Lembras-te de todas as vezes que disse palavras sem sentido? De todas as vezes que senti a tua mão gélida na cara como uma repreensão? Lembras-te de quanto eu te pedi para ficares? Não, não lembras. Nunca sobes-te. “

Eu estava a falar contigo ***, mas desta vez não caiu nenhuma lágrima, mas eu voltei a sentir tudo o que me apavorou desde a tua primeira morte. Estamos sentados no chão, e eu não consigo dizer-te mais nada. É triste mas é o fim. Um dia escrevi-te uma carta só com uma frase, “Mesmo que possas voltar, não voltes!”. Possivelmente não a recebes-te senão não estarias aqui, agora. Sinto que nada está bem, está tudo longe de estar bem e no peito voltei a sentir o meu coração cheio de noite, as unhas cravadas nos ombros, as pestanas molhadas, eu voltei a chorar-te. Foste embora – a porta não se abriu nem se fechou mas as orquídeas secas que teimavam em não cair, desta vez estão no chão, e foste tu! Como é habito tenho religiosamente um ramo de flores no quarto que conservo até todas caírem, uma por uma. Desta vez eram orquídeas brancas, que caíram com a tua saída.  

 

Agora eu sei a tua morte é sempre nova em mim.

Eu morria de ti. Mas tu eras o meu viver!

 

P.S.- O nome está omitido e por esse motivo encontram no seu lugar - ***