8 de janeiro de 2010


- tens horas?
- 3.20h
- quanto tempo falta para o arco irís?
- quase nada.
[sentei-me ao lado dele, e esperamos]
- nunca mais aparece...
- há-de chegar.
- tens a certeza?
- sim.
- e tu?
- eu o quê?
- quando voltas?
- voltar onde?
- para a nossa vida.
- nossa?
- sim, nós tinhamos uma paixão, um amor, uma casa -uma vida. mas tu um dia sais-te de manhã e nunca mais voltas-te, disses-te apenas que ias cortar rosas.
- e fui. mas nunca voltei porque nunca houve possibilidade.
- porquê?
[silêncio]
- sabes como chorei por ti? como o desespero invadiu a minha vida?
- nao sei
- porquê? porque não voltas-te para nós?
- é que eu...
- passava as noites todas sentada de joelhos no quintal da frente, com os olhos no portão, desejava que rompesses aquela noite com a luz que trazias nos olhos. esperei por um dia que acabou por não chegar.
- mas...
- mas eu fiquei desolada, enches-te meu coração de noite, e agora encontro-te aqui, parado á beira de um taxí. não consigo entender-te.
- desculpa...
- mas e agora?
- agora estamos no verão.
- eu sei, e?
- e dantes era Inverno.
- tambem sei.
- dantes, no Inverno não há rosas, eu tentei, juro que tentei, eu procurei no quintal da vizinha D. Diolinda, no quintal que está na esquina direita, no outro e em todos os que existiam naquela época, mas nenhum tinha rosas - nenhum. eu queria dar-te a rosa mais bonita, mas falhei. queria dizer-te um simples 'obrigado', queria mais um pequeno sorriso teu, mas falhei - não encontrei nenhuma flor. passei uma vida a teu lado sem dizer um 'amo-te' e naquele dia acordei com toda essa coragem, decidi sair, colher uma rosa e entrar de rompante, mas não encontrei nenhuma.
[silêncio]
- podias ter voltado depois, sem rosa.
- há tempo para tudo, e sobretudo tenho receio de dizer-te tudo isto porque no momento em que tento falar, não só exprimo o que sinto, como o qe sinto transforma-se lentamente no que eu digo. entendes?
- acho que sim.
[a conversa durou horas, meses até. e agora estamos de novo no Inverno.

abris-te a porta do taxí com uma expressão colossal]
- onde vais?
- cortar rosas.
- mas é Inverno e não há rosas.
- eu sei.
[e partis-te novamente]



tudo escrito a minusculas, porque não há nada de grande nesta história.