- Que dor aguda.
- Onde?
(Levei a tua mão ao meu peito) – Aqui, dói-me o coração…
- Pensei que já estavas acostumada e a dor acostumada já não se sente nada.
- É verdade eu acostumei-me à dor, passei a viver escrava de uma mágoa que teima em nunca me deixar.
- A sério?
- Sim, é horrível. Sinto no peito pedaços de vidro, que se cravam cada vez mais. Dói.
- Dói? Dói muito?
- Dói demais.
- Vem cá, fecha os olhos, não chores, pára de soluçar, calma, eu estou aqui, eu agora estou aqui. Sei que fui embora muitas vezes, vezes demais. És a minha menina, eu vou acabar sempre por voltar. Quando um dia morrer, chora, chora mesmo, chora com toda a emoção, chora, mas por agora guarda as tuas doces lágrimas porque vais precisar delas, em breve…
- O que é que queres dizer com “em breve”?
- Em breve vai doer muito mais. (abraçaste-me) Sê forte depois está bem?
- (silêncio)
Íris Tomazini