Eu não queria muito, eu só queria acabar com tudo. Tinha lágrimas nos olhos, termia com medo, medo de tudo, medo daquela dor que me assaltava. Aquela aflição estrangulava-se devagarinho. Eu só queria morrer. Peguei num bisturi e lancei a minha raiva sobre os pulsos. Tinha a certeza que não faria um golpe fundo demais, não era minha intenção morrer mesmo. Na verdade era. Eu estava ali, a anunciar a minha morte e a pedir para ficar. Mas, a situação estava descontrolada, eu estava descontrolada, estava tudo descontrolado. E eu, quase morri. Senti medo, medo demais. Agora, eu só queria que o sangue parasse. Não queria morrer, não queria! Confrontei-me com uma dor muito pior: a dor inicial e a dor da incerteza quanto à minha permanência na vida. Que desespero. Tinha falhado redondamente. Mostrei o quão era fraca. Os caminhos que sempre preferi com esforço bamboleavam numa linha ténue. Onde estava a minha invencibilidade? Eu continuava com medo. O sangue não parava, e por incrível que pareça tive tempo para pensar em tudo, o fiz, o que deixei por fazer, o que queria fazer… Estava fraca, a respiração descompassada assustava-me e aí começou a crescer uma fúria monstruosa por alguma vez ter desistido de viver.
- Querer morrer
é muito diferente de estar a morrer.